TUDO
COMEÇOU COM CUBATÃO – 25 ANOS DE QUESTÃO
AMBIENTAL
O
meio ambiente ganha espaço gradativamente nos meios
de comunicação. O que poucos lembram é
que a questão, principalmente na Região Metropolitana
de São Paulo, já completa um quarto de século
e possuía diferentes temas no início.
Rafael Duarte Oliveira Venancio
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Quantas
vezes, nos últimos meses, você abriu o seu
jornal, ligou sua TV, sintonizou o seu rádio ou
se conectou a um site de notícias na Internet?
“Praticamente todos os dias” será a
resposta mais comum. Dessas vezes, qual era a freqüência
das notícias sobre a questão ambiental?
A resposta “Todas as vezes” parece ingênua,
mas é a realidade. Em uma pesquisa simples no Folha
Online, a palavra “aquecimento global”
(uma das mais procuradas no site) indica que 76 matérias
sobre o tema foram produzidas no mês de março
de 2007. É uma média superior a duas matérias
por dia. Na verdade, apenas o dia 11 de março não
teve nenhuma produção com a palavra-chave. |
Com
certeza, a questão ambiental é um dos grandes
temas do início do século XXI. Está tão
presente no nosso cotidiano que, a cada nova notícia,
os mais velhos se surpreendem lembrando que no seu tempo não
era assim. Já os mais novos têm a sensação
de que o tema sempre esteve em pauta.
Entretanto, fica a questão sobre o início: quando
a questão ambiental entrou em discussão na esfera
pública? Aqui nos interessa mais a situação
na Região Metropolitana de São Paulo e arredores
onde a degradação é cartão-postal.
Curiosamente, 2007, o ano-chave da discussão acerca
da preservação do meio ambiente, pode ser considerado
o aniversário de 25 anos do debate ambiental na RMSP.
Em 18 de fevereiro de 1982, após um escândalo
administrativo na prefeitura de Cubatão, José
Oswaldo Passarelli é nomeado interventor municipal.
Cubatão, localizado na atual Região Metropolitana
da Baixada Santista, foi símbolo do progresso paulista
e brasileiro por muitos anos. Sede da COSIPA e de uma usina
da PETROBRÁS, além de diversas indústrias
pesadas, a cidade sentiu o peso da degradação
ecológica na mesma época da resolução
do escândalo.
Havia uma soma de questões ecológicas discutidas
no Estado no início da década de 80. Os níveis
de poluição de Cubatão, a degradação
da Mata Atlântica da Serra do Mar, a entrada da cidade
de São Paulo no ranking das cidades mais poluídas
do mundo e a possibilidade de construção de
usinas nucleares na região da Juréia-Itatins
eram a pauta do momento.
Tanto que o Governo do Estado de São Paulo resolveu
criar o CONSEMA (Conselho Estadual do Meio Ambiente) em 1983
pelo governador Franco Montoro. O conselho, embrião
da atual Secretaria do Meio Ambiente (criada em 1992), foi
formado como instrumento governamental para orientação
e a ação na preservação do meio-ambiente.
Há 36 membros no seu quadro consultivo, sendo 50% provenientes
da sociedade civil.
Nesse mesmo ano, há um projeto, coordenado pela CETESB,
para diminuir a degradação do meio ambiente
em Cubatão. No entanto, a cidade continuou a virar
notícia ambiental com o incêndio da Vila Socó,
em 1984, graças à explosão de um duto
da Refinaria Presidente Bernardes da PETROBRÁS. A tragédia
teve tamanha proporção que não foi possível
ter contagem oficial dos mortos.
Surge
o mito do “Vale da Morte” que é agravado
com os bebês acéfalos, os resíduos
tóxicos e a pobreza extrema da Vila Parisi. Ganhando
repercussão na passagem de 84-85, esse bairro,
localizado no chamado “Polígono das Indústrias”
(formado, entre outras, pelos fundos da COSIPA) ganha
repercussão mundial.
É o auge da crise e o começo da ação
efetiva. Em 1985, começa um projeto conjunto entre
Prefeitura de Cubatão, Governo do Estado e ONU
que melhora drasticamente a situação. Tanto
que, em 24 de maio de 1992, a Vila Parisi é extinta
e, nesse mesmo ano, a cidade ganha o título de
“Cidade Símbolo da Recuperação
Ambiental” pela ONU.
O interessante é que, também em 1992, acontece
a ECO-92 (conhecida também por RIO-92) na cidade
do Rio de Janeiro. O evento, realizado pela CNUMAD (Conferência
das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento), tem como principal contribuição
a chamada Agenda 21.
A Agenda 21, considerada o pontapé inicial do “desenvolvimento
sustentável”, era um documento onde os países
participantes se comprometiam a implementar e seguir as
resoluções de seus 40 capítulos.
Apesar de ser a mãe da pauta ambiental atual, ela
não tratava apenas de ecologia, mas também
de pobreza e inclusão social.
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No âmbito governamental, ela é a inspiração
para a criação do CADES (Conselho Municipal
do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável)
pela Prefeitura de São Paulo e a Secretaria Municipal
do Verde e do Meio Ambiente. No decreto de criação
em 17 de novembro de 1993, o conselho tem como diretriz básica
a “promoção do Desenvolvimento Sustentável
que, de acordo com a definição da Organização
das Nações Unidas - ONU, é o ‘desenvolvimento
que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades’”.
Porém, o filho mais importante da Agenda 21 é
o chamado Protocolo de Kyoto. Aberto para ser assinado no
Japão, em 1997, o documento é considerado polêmico.
De um lado, os cientistas acham insuficiente a redução
de 5,2% das emissões de gases estufa. Por sua vez,
governos como Estados Unidos e Austrália se recusam
a ratificar o acordo.
Kyoto levou as secretarias municipais e estaduais de São
Paulo a criarem projetos sobre as emissões dos gases.
Na capital paulista, especificamente, aconteceram a criação
de novos projetos como o Projeto de Inspeção
Veicular (que fez que muitos carros ganhassem adesivos de
cor cinza com o número 97 significando a aprovação
na inspeção), controle de gases e ruídos,
além do programa, com o apoio do Banco Mundial, chamado
Iniciativa ao Ar Limpo.
Assim, podemos dizer que o ponto atual da discussão
ambiental faz 10 anos neste ano. Só que em 2007, a
temática toma ares apocalípticos. O aquecimento
global começa a ser sentido pela população
através da seqüência, desde 2004, de temperaturas
desreguladas e catástrofes ambientais como o tsunami
no Índico e o furacão Katrina em New Orleans.
O grande assunto da vez é o quarto relatório
do IPCC (Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas)
lançado em três partes: fevereiro, abril e maio
de 2007. Suas principais conclusões foram que o aquecimento
do planeta é inequívoco e que ele é causado
pelo crescimento da emissão de gases estufa a partir
do meio do século XX.
O assunto está tão em voga que, em matéria
de março desse ano do Jornal O Judiciário
Paulista do Tribunal de Justiça de São
Paulo, o IPCC é relacionado dentro do cenário
de criação da Câmara Especial do Meio
Ambiente pelo TJSP em novembro de 2005. Isso mostra que as
esferas governamentais estão se mexendo na questão
ambiental, usando-a como propósito para várias
medidas, como a Lei Específica da Represa Guarapiranga.
A questão ambiental entrou de vez na discussão
da esfera pública. Será que dessa vez é
para ficar? Será que ela continuará com ótima
freqüência na mídia e nos projetos governamentais.
Acho que apenas no aniversário de 30 anos responderemos
tais questões.
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