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Trabalho e Desemprego
Mulher e Desemprego
Por Liliana Segnini*


Para a mulher, o desemprego não significa necessariamente um aumento do tempo ocioso. Pelo contrário, o que pudemos observar, entrevistando mulheres desempregadas, é que predomina um grande volume de trabalho, seja em função das atividades domésticas e do maior envolvimento com situações familiares, seja pela procura de trabalho remunerado e renda. Essa realidade foi constatada na pesquisa Mulheres, mães, desempregadas. Contradições de uma condição social , que realizamos entre os anos de 2000 e 2001 com doze mães desempregadas na Região Metropolitana de São Paulo. A pesquisa faz parte do projeto Desemprego: aspectos institucional e biográfico. Uma comparação Brasil, França, Japão , coordenado por Nadya Araújo Guimarães e realizado no Centro de Estudos da Metrópole.

O objetivo da pesquisa foi analisar a vivência cotidiana do desemprego desse grupo de mulheres. Assim, foi possível perceber a relevância da família na construção de redes de solidariedade – ou mesmo de sobrevivência, o papel da igreja nessa situação, a insuficiência de políticas públicas face ao desemprego e a relação entre trabalho infantil, escolaridade e desemprego. Também foram observados os múltiplos impactos do processo de reestruturação produtiva na vida dessas mulheres e de suas famílias.

Os relatos demonstram que o cotidiano da desempregada é caracterizado por muito trabalho, inscrito em múltiplas relações sociais. Na família, o trabalho doméstico e os cuidados com os filhos (e sogra doente) se reafirmam como “obrigação de mulher”. Porém, não se restringem ao trabalho no espaço privado. Observamos também que elas continuam a procurar trabalho remunerado, salário e direitos sociais; para tanto, despendem tempo e recursos. A esta dupla forma de trabalhar – espaço privado e procura de emprego – elas somam a procura de oportunidades para auferir renda: fazer biscoitos, salgadinhos, faxinas ou trabalhar como manicuras, cabeleireiras e corretoras de imóveis, que são estratégias para obtenção de renda, ainda que consideradas como provisórias.

As doze entrevistadas foram contactadas duas vezes no período de um ano. Das doze, oito informaram que, no período compreendido entre uma entrevista e outra, a situação de desemprego não se modificou. As outras quatro relatam que vivenciam, no momento da segunda entrevista, por razões diversas, uma situação melhor do que haviam descrito há um ano. Mas algumas delas ressaltam que isso não expressa um mercado de trabalho mais dinâmico, mas sim a expansão do trabalho precário.

É relevante destacar que os dados captados nessa pesquisa são considerados parciais e permanentemente inconclusos, mas não menos relevantes cientificamente por essa razão. Na multiplicidade dos significados e suas nuances, esses dados fornecem possibilidades explicativas para uma interpretação de uma sociedade específica – Brasil, uma região determinada – Metropolitana de São Paulo, para um grupo social previamente selecionado por meio de sorteio – mulheres e mães, em uma única condição de trabalho - desempregadas. No entanto, estes resultados podem e devem ser comparados com a experiência vivida de desemprego pelos outros grupos analisados no Brasil, bem como com as outras regiões metropolitanas selecionadas no Japão e na França.

Liliana Rolfsen Petrilli Segnini é professora do Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Educação na UNICAMP e participou da equipe da pesquisa como consultora.


 


diverCIDADE - Revista Eletrônica do Centro de Estudos da Metrópole