“Desde os anos 90 o maior volume de desempregados se encontra nas regiões metropolitanas, mas nas cidades de médio e grande porte também se verifica o desemprego elevado. Nas cidades muito pequenas, o desemprego não se configura claramente. Isso porque, como todo mundo se conhece, a informação circula rápido e as pessoas logo descobrem que não há oferta de empregos, e acabam desistindo de procurar trabalho. Com isso, elas são classificadas nas estatísticas como inativas, o que acaba mascarando as estatísticas de desemprego. No entanto, o problema do desemprego se verifica, nessas cidades, pelos baixos índices de rendimento das pessoas e famílias.
“Para enfrentar o problema o mais importante é manter o crescimento econômico, de forma consistente e sem estagnação, por pelo menos 7 ou 8 anos, com taxas de crescimento relativamente altas. Além disso, são necessárias algumas políticas específicas, como no caso dos jovens, que não tem experiência para obter o primeiro emprego. A qualificação para adultos também é fundamental, já que eles freqüentemente mudaram de setor ao longo da vida. Principalmente em SP, que era uma cidade tipicamente industrial, o perfil necessário para os novos setores de serviço, comércio e construção civil é diferente e exige treinamento. Mesmo nas funções mais simples, é importante saber ler, escrever, interpretar textos e fazer operações básicas de matemática. Nas políticas públicas, é importante que seja promovido o acesso à informação, através dos centros de acesso à internet. O sistema de proteção ao trabalhador também deve ser reorganizado para melhorar a qualidade do serviço e aumentar o acesso aos benefícios”.
Paula Monagner, Coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho no Ministério do Trabalho e Emprego
“Ao contrário da concepção que reina nos sistemas estatísticos nacionais e na teoria econômica, o desemprego é um fenômeno crescentemente complexo que se expressa através de situações sociais diversas, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Na experiência brasileira, a falta de crescimento sustentado do país nestes últimos 25 anos, em um contexto de baixa regulação social, tem se associado à recorrência de um desemprego elevado que se expressa de modo cada vez mais heterogêneo.
“Esta situação se manifesta na sua totalidade nas grandes metrópoles, onde a complexidade da estrutura social e econômica e o processo de reorganização da estrutura produtiva ocorrem de modo mais intenso. A Região Metropolitana de São Paulo é a ponta de lança deste movimento no Brasil. O aprofundamento da segmentação de seu mercado de trabalho com o desenvolvimento de um núcleo restrito de serviços modernos e com redução dos setores industrial e bancário, em um trajetória de falta de crescimento e modernização tecnológica, alimentaram a informalidade e o desemprego, ampliando caleidoscópica deste problema.
O desemprego aberto se tornou uma marca presente na configuração de seu mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que se consolidaram formas de desemprego associadas ao trabalho descontinuo e eventual, que aparecem como estratégia de sobrevivência em um país com baixa proteção social ao emprego e em uma metrópole com um custo de vida cada vez mais alto e internacionalizado.
Por outro lado, o desemprego da metrópole não pode ser resolvido pelo crescimento do interior do estado, em razão do tamanho relativamente reduzido deste mercado de trabalho. Uma política de desenvolvimento estadual depende, portanto, do estabelecimento de diretrizes econômica e social claras para a metrópole, reconhecendo que será em seu espaço que se dará a superação de seu elevado e complexo desemprego.
Claudio Salvadori Dedecca”, Professor do Instituto de Economia da Unicamp
De fato, na minha opinião, o fenômeno do desemprego adquire características próprias em regiões como São Paulo. Trata-se de uma área com forte tradição industrial, que passou por profunda restruturação, não só no âmbito de sua indústria como nos demais setores de atividade de sua economia.
Seja pela introdução de novas tecnologias ou de novas técnicas gerenciais, o resultado dessa restruturação, para o mercado de trabalho, foi o aumento do desemprego e a precarização das relações de trabalho.
Aparentemente, as ocupações semi-qualificadas da indústria e de certos segmentos dos serviços (como os bancários) foram as mais atingidas por esse processo, o que levou ao desemprego muitas pessoas relativamente escolarizadas e qualificadas, em faixas etárias
mais avançadas e com experiência de trabalho. Entretanto, tais credenciais não se adequavam aos novos postos de trabalho que foram criados, em sua maioria com baixas exigências de qualificação – como vigias, pessoal de limpeza e manutenção de edifícios, vendedores no comércio varejista (inclusive ambulantes), atendentes em vários segmentos do setor de serviços, etc. Tampouco se adequavam aos postos mais qualificados que também foram gerados nos últimos anos, notadamente nos serviços especializados e auxiliares às empresas, nas instituições financeiras, etc.
Pode-se dizer que ocorreu uma espécie de polarização do mercado de trabalho, no sentido de que os postos de trabalho criados, além de ser em menor número que os destruídos, concentravam-se em ocupações com poucas ou, em menor medida, com elevadas exigências de qualificação. Isso fez com que se ampliasse muito o tempo decorrido entre a perda de emprego e uma nova inserção ocupacional para o segmento semi-qualificado (que, quando ocorre, em geral, é na condição de assalariamento sem carteira assinada ou de trabalho autônomo), mantendo a taxa de desemprego em patamar muito elevado e provocando a redução da média dos rendimentos do trabalho de sua massa.
Em simultâneo, além de um altíssimo estoque de pessoas em idade de trabalhar residentes em São Paulo - muitas atraídas pelas oportunidades de emprego existentes no passado -, acelerou o ingresso das mulheres no mercado de trabalho, ampliando a disputa pelas escassas oportunidades disponíveis. Também tem-se observado um adiamento do ingresso de jovens (provavelmente reflexo da maior valorização da escola) e da saída de pessoas mais idosas desse mercado (possivelmente como forma de evitar redução de seus rendimentos), levando esse mercado a uma composição mais velha e com maior presença de mulheres.
Desse modo, o desemprego em São Paulo não pode ser tomado como um fenômeno meramente conjuntural, pois, além desse aspecto, movimentos mais profundos, seja no âmbito do processo produtivo, seja no comportamento dos segmentos sociais que compõem sua população ativa, são decisivos para seu entendimento.
Sinésio Pires Ferreira, economista e diretor adjunto do SEADE.
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