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Trabalho e Desemprego
Pesquisa traça instabilidade na trajetória dos trabalhadores em São Paulo


Uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos da Metrópole está ajudando a conhecer melhor a trajetória profissional dos paulistanos nas últimas duas décadas e as dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho nesse período. O projeto, chamado As novas formas do emprego e da mobilidade na metrópole paulista, foi realizado em parceria com a Fundação SEADE e com a USP e faz parte de um amplo estudo comparativo sobre trajetória profissional e desemprego em mais duas metrópoles: Paris e Tóquio.

Em São Paulo, o projeto foi dividido em duas fases: a análise quantitativa, na qual foram entrevistadas 50 mil pessoas através de questionários, e a análise qualitativa, com entrevistas mais detalhadas, onde as pessoas falaram sobre suas experiências profissionais nos últimos vinte anos.

A primeira parte da pesquisa mostrou que o emprego de carteira assinada na cidade já se tornou uma raridade. Dos 50 mil entrevistados, apenas 25% deles manteve-se, no período, em empregos desse tipo. Mas o mais preocupante é que quase um terço da população esteve privada, nos últimos 20 anos, de ocupação regular, transitando constantemente entre o desemprego e a inatividade.

Tradicionalmente, a inatividade é vista como parte natural do ciclo de vida, quando a pessoa se aposenta, ainda está estudando ou, no caso da mulher, para exercer a maternidade. “Mas, em São Paulo, não é isso que acontece. Aqui a busca pelo emprego é tão difícil que muita gente desiste momentaneamente e acaba sendo classificada pelas pesquisas como inativo”, diz Nadya Araújo Guimarães, coordenadora do projeto.

Tradicionalmente, a inatividade é vista como parte natural do ciclo de vida, quando a pessoa se aposenta, ainda está estudando ou, no caso da mulher, para exercer a maternidade. “Mas, em São Paulo, não é isso que acontece. Aqui a busca pelo emprego é tão difícil que muita gente desiste momentaneamente e acaba sendo classificada pelas pesquisas como inativo”, diz Nadya Araújo Guimarães, coordenadora do projeto.

Outro fator preocupante é que essas transições, que antes aconteciam apenas em momentos de crise, agora são permanentes. “Ou seja, mesmo quando melhoram as condições econômicas, uma parcela da população permanece sempre desempregada ou transitando em direção à inatividade, ultrapassando, assim, a fronteira de saída do mercado de trabalho”, diz Nadya.

“Diante dessa situação, parecem borrar-se as fronteiras do mercado de trabalho, tal como classicamente definido na teoria e tal como historicamente existente nos países de desenvolvimento capitalista originário”, diz Nadya.

Um dos fatores que pode explicar tal intensidade nas transições no mercado de trabalho é a forma como o sistema de proteção ao desemprego se estrutura no Brasil. O seguro desemprego é recente, tendo sido implementado em meados dos 90, sua cobertura é relativamente restrita, pois requer do beneficiário a experiência documentada de emprego formal, o seu valor é pequeno e a sua duração é reduzida.

Assim, o desempregado é forçado a aceitar qualquer oportunidade, enquanto procura outra melhor, ou simplesmente desistir da procura, por lhe faltarem os meios necessários a seguir na busca pelo trabalho. O dinheiro para o transporte até as firmas que oferecem vagas, ou para a compra do jornal que anuncia posições, ou mesmo para incluir o currículo na Internet, tudo isto compete com a renda requerida para a mera sobrevivência pessoal e da família. “A procura, nesse caso, pode se tornar um alvo secundário na organização da vida cotidiana”, diz Nadya.

Outro problema é que procurar trabalho é especialmente difícil e caro numa metrópole como São Paulo. A distância geográfica, numa metrópole com a configuração espacial como a nossa, é bastante onerosa, já que o emprego geralmente não está perto do desempregado (ver seção Mapas , que ilustra essa situação).




diverCIDADE - Revista Eletrônica do Centro de Estudos da Metrópole