A pesquisa sobre trajetória profissional do Centro de Estudos da Metrópole traduz em números uma realidade que os paulistanos conhecem bem: a da instabilidade profissional, do trabalho informal e da dificuldade em se conseguir empregos. Fica cada vez mais difícil encontrar alguém que tenha carteira assinada, e mesmo as grandes empresas contratam profissionais como “autônomos por tempo indeterminado”, embora legalmente esse tipo de contrato só possa vigorar por três meses, quando o profissional deveria ser efetivado.
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Para conhecer um pouco mais de perto a realidade retratada pela pesquisa de Nadya Araújo Guimarães, a equipe de diverCIDADE visitou o centro da cidade, entrevistando trabalhadores informais entre a Praça da República e a Rua Barão de Itapetininga, onde ficam concentradas diversas agências de emprego. |
Ao longo das entrevistas conhecemos diversos trabalhadores cuja trajetória profissional ilustra uma tendência comum das últimas duas décadas: o profissional, qualificado ou não, que perdeu o emprego com carteira e passa a fazer bicos. Outro aspecto analisado na pesquisa, a variedade de trajetórias ocupacionais, também pode constatado rapidamente após algumas entrevistas. Leia os depoimentos abaixo.
Valdemar de Jesus Rocha , 45, é plaqueiro, mas já foi ascensorista de elevador, porteiro, faxineiro e pedreiro na construção civil. Está há 2 anos trabalhando sem carteira assinada, por 24 anos trabalhou registrado. Nasceu na Bahia, em Santa Terezinha e chegou em São Paulo, em 1974. Cursou até a sexta série. Manda currículos para agencias, procura emprego em placas e cartazes, e em sindicatos dos trabalhadores como o da rua 7 de Abril, no centro. “Parado não fico não e como plaquista também não, saio procurando. Mas é melhor trabalhar de plaquista que ficar em casa com a mulher brigando”, afirmou Valdemar. Atualmente aguarda a resposta de um emprego de vigia que uma amiga indicou, ganharia R$ 480. “O encarregado do prédio ficou de passa aqui, na Dom José de Barros com a 24 de Maio para dar a resposta”, disse o plaqueiro.
Juarez José Santos , 50, era metalúrgico prensista em uma estamparia há 12 anos atrás. Há um ano e meio faz bico de plaqueiro vendendo atestado de saúde, fotos e exames médicos. Ganha R$ 10,00 por dia. Já foi pedreiro e hoje procura emprego de vigilante. Disse ter currículos espalhados na zona leste e no ABC e que os manda diretamente para as empresas. “Nas agências só aceitam até 30 anos”, disse Juarez. Como não conseguiu nenhum emprego desanimou. Um amigo lhe falou que na Sé dava para arrumar um bico. Mas não se deu por vencido: “Ainda arrumo emprego registrado, ta embaçado, mas sempre tem que ter a esperança pra arrumar um emprego, para ter sossego, né?”, disse o baiano, de Itabuna. Contou ainda, que tem 12 anos de carteira assinada e que faltam 15 anos para se aposentar. “Se aparecer um trampo bom, me avisa, to sempre aqui na Sé”. E encerrou a conversa: “se você tiver um amigo com casamento desmanchado manda aqui para o Juarez, que ele não sai perdendo, nós derretemos a aliança de ouro dele”, disse rindo.
Marcelino Gusmão Pimentel , 26, nascido em Belém do Pará, trabalha desde os 10 anos, e agora cuida da banca de ervas de uma amiga, próxima à Praça da República. Trabalhou com um grupo de teatro chamado “Mensageiros da Alegria”, que faz trabalho humanitário em hospitais e arrecada dinheiro em ônibus. Trabalhou apenas 3 meses com carteira assinada, numa empresa de serviços de limpeza. “Procuro emprego através de amigo, pois é mais fácil conseguir trabalho por indicação”, diz Marcelino. |
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Cecílio Pereira da Silva , 55, pernambucano, trabalha como camelô há 20 anos Tem uma banca na 25 de março onde vende resvistas antigas de artesanato, embora esteja parado no momento por “problemas burocráticos”. “Já trabalhei como porteiro e vigia de prédio, e tive carteira assinado durante 18 anos. Continuo procurando emprego, mas é difícil por conta da idade. Além disso, perdi de visão de um olho, em um assalto”, conta Cecílio.
Joaquim Paulino , 85, aposentado há 16 anos, é ex-porteiro da administração pública municipal. “Já trabalhei como pedreiro, e agora faço bico de plaqueiro para complementar a renda”, diz Joaquim, que segura placa com ofertas de trabalho na Barão de Itapetininga.
Paulo Roberto Ângelo , 56, é taxista há 26 anos. Trabalhou como torneiro mecânico repuxador de alumínio durante 15 anos, e trabalhou no comércio. “O táxi foi por opção, pois naquela época não tinha desemprego. Prefiro ser independente e não ter patrão”, diz Paulo.
Emerson Francelino Costa, 25, trabalha desde os 20 como motoboy. “A empresa não registra, mas continuo procurando trabalho através de amigos”, diz Emerson.
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