Paraisópolis
Redes sociais criam oportunidades em favela
Por Gilberto Stam , editor assistente
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Novas pesquisas etnográficas realizadas pelo Centro de Estudos da Metrópole estão ajudando a entender como as redes sociais criam oportunidades de inclusão social para moradores de áreas pobres. A primeira fase da pesquisa foi feita na favela de Paraisópolis, e analisou diversos aspectos da formação das redes, desde a estrutura familiar, as atividades religiosas, as organizações de moradores e as organizações não-governamentais.
“Observamos que essas redes ajudam a circular informações sobre os benefícios e oportunidades que aparecem dentro da favela, principalmente sobre oportunidades de emprego”, diz Ronaldo de Almeida, pesquisador do CEM e coordenador do projeto. Por estar localizada na fronteira com um bairro rico, o Morumbi, essa oferta acaba sendo bem maior que em outras regiões pobres da cidade, principalmente pela demanda de serviços domésticos. |
A interação com o entorno rico faz de Paraisópolis uma favela diferente das demais, que apresenta uma situação de “privilégio entre os excluídos”. Lá o tráfico de drogas não tem uma entrada significativa, os índices de violência são pequenos e o número de armas de fogo é menor em relação a outras favelas. Em contrapartida, a oferta de empregos e serviços - tanto formal quanto informal - atrai pessoas de outros lugares e faz de Paraisópolis um local de ascensão social entre as favelas.
O primeiro fator que ajuda a compreender como se forma essa rede é a origem demográfica do bairro. Paraisópolis apresenta uma composição demográfica peculiar, que facilita o relacionamento em redes. Isso porque 80% dos favelados são de origem nordestina, e a maioria das pessoas se relaciona através de uma família estendida que inclui, além dos familiares diretos, amigos conterrâneos.
Outro aspecto fundamental nessa rede é a religiosidade, que ocupa um papel central dentro das redes associativas. “75% dos moradores do local se declaram católicos e aproximadamente 20% evangélicos”, afirma Ronaldo. “Além do aspecto espiritual, o pertencimento religioso garante acesso a benefícios materiais como cestas básicas, roupas e indicações para empregos”.
A predominância de católicos, no entanto, não se reflete no número de igrejas na favela. Existe apenas uma paróquia católica, para um número bem maior de templos evangélicos: oito templos da Assembléia de Deus, sete da Deus é Amor e quatro da Igreja Presbiteriana Até o começo de 2004 havia ainda sete templos de outras denominações. Isso reflete um padrão na cidade, no qual os templos evangélicos, de um modo geral, são mais representativos nos bairros pobres (veja mapas de distribuição de igrejas na seção de mapas).
As associações de bairro também colaboram. Nesse sentido, a União dos moradores tem um papel central, funcionando como o principal canal de acesso ao poder público, além de ajudar doentes e migrantes recém chegados. Existem ainda diversas organizações externas que realizam projetos na favela, como o Hospital Israelita Albert Einstein, que mantém um posto de saúde no bairro, o Colégio Santo Américo e o Porto Seguro, que oferecem cursos para os moradores. Os condomínios também realizam coletas de alimento e roupas. |
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A ajuda que chega em Paraisópolis e que faz dela uma favela mais tranqüila do que as demais é também um reflexo do medo que existe em seus vizinhos mais ricos. Isso faz com que essa ajuda possa ser vista como uma via de mão dupla. “Ao mesmo tempo em que ajudam os moradores, essas iniciativas também são uma forma de conter a violência potencial que existe na pobreza”, diz Tiarajú Pablo D'Andrea, pesquisador do CEM.
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As etnografias feitas em Paraisópolis foram feitas entre os anos 2002 e 2003, envolvendo a observação em campo de 30 famílias (muitas delas conectadas em redes de família extensa) da União dos Moradores de Paraisópolis, das ONGs, de grupos filantrópicos e de igrejas. Foram realizadas entrevistas gravadas e observações do cotidiano de moradores e das lideranças locais. A análise também se apoiou num survey com 524 entrevistas realizado dentro de um projeto sobre vulnerabilidade e inclusão social do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP).
Nesse momento, estão sendo realizadas novas etnografias com objetivos semelhantes para o bairro de Cidade Tiradentes, bem como na cidade de Salvador. O objetivo é comparar as redes sociais em locais diferentes de São Paulo e em outras cidades. |
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