Silvia Helena Simões Borelli
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é antropóloga, pesquisadora e professora Livre Docente pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Possui graduação em Ciências Políticas e Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1973) e fez mestrado (1983), doutorado (1995) e livre docência (2006) na PUCSP. Pesquisadora nas áreas de antropologia, comunicação, design e culturas contemporâneas, em especial culturas urbanas e juvenis, produção e recepção midiáticas, televisão e telenovelas, mercado editorial e literatura popular de massa, atualmente, a antropóloga coordena o projeto “Jovens Urbanos”, vinculado a uma rede internacional de pesquisadores e ligado ao Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da PUCSP. Por meio desta entrevista, a pesquisadora fala mais sobre seu diversificado trabalho. |
Vida de Pesquisadora
Na verdade, já comecei a fazer pesquisa na graduação. Porque fui monitora de disciplina e já comecei a fuçar nessa coisas desde a graduação na área de antropologia. Eu sempre brinco que primeiro eu me apaixonei pelo professor de antropologia depois eu fui ser antropóloga.
Uma paixão completamente platônica que do mesmo jeito que apareceu, foi. Então (risos) comecei desde a graduação. Logo que terminei a graduação, já entrei para o mestrado. Apareceu daí uma grande chance de fazer um mapeamento das tribos indígenas do estado de São Paulo e as condições em que esses grupos estavam. Disso, resultou meu mestrado.
Hoje mexo com outras coisas, mas comecei fazendo mesmo essa coisa da antropologia mais tradicional dos grupos indígenas.
Logo depois do mestrado, acabei fazendo o doutorado e, nessa época, apareceu a pesquisa de telenovelas. O livro resultante se chama “Telenovelas: história e produção” e está publicado pela Brasiliense. E foi um enfrentamento, porque no fundo eu estava fazendo uma guinada de área. Acho que passei uns cinco anos estudando para fazer essa guinada. Sair da etnologia indígena e vir para essa coisa que não era propriamente uma antropologia urbana.
Era muito uma preocupação com as culturas contemporâneas, com a cidade muito presente. E a televisão acabou sendo um gancho, um objeto e um gancho muito importante. Então, essa pesquisa foi um marco porque foi daí que comecei a fazer a conexão com a área da comunicação. A partir disso, minha trajetória de pesquisa não se separa. Continuo sendo antropóloga, de ciências sociais, mas, jamais, daí para frente, abri mão de fazer essa conexão entre as áreas de antropologia, ciências sociais e comunicação. Foi essa pesquisa de telenovela que abriu para isso.
E houve muita coisa ligada à televisão. Fiz um trabalho com o Big Brother mais recentemente. Fiz outro trabalho junto com a (Maria) Immacolata Vassalo de Lopes sobre recepção de telenovelas (“Vivendo com a Telenovela:mediações, recepção, teleficcionalidade”, editoraSummus). Depois, coordenei um outro grupo de pesquisa, onde mapeamos 30 anos de audiência da Globo. Então, tenho um bloco grande de trabalho de pesquisa voltado para a televisão. Dois de telenovela, um com o Big Brother, outro com a audiência da Globo.
Depois disso, apareceu um trabalho com leitura de campanhas de prevenção da AIDS nas tevês junto a uma rede internacional de pesquisa. Esse trabalho foi financiado pela União Européia, (projetos ALFA/EDUCOM). Havia cinco países envolvidos: Brasil, Argentina, Portugal, Espanha e França. Essa foi minha primeira experiência em rede internacional de pesquisa.
Há um outro lado que gosto muito de colocar, que é a questão da pesquisa às vezes apontar chamadas para fazer alguma coisa para o mercado. Então, nós temos uma pesquisa que considero muito interessante na Rhodia, no setor de águas minerais, mais voltada para o valor cultural e simbólico das velhas águas minerais, das estâncias. Então, tem um lado também meu, do qual não abro mão, porque partilho um pouco de uma trajetória que diz que a gente não deve excluir essas relações com o mercado. Enfim, a gente tem que fazer essa aproximação. Primeiro, porque a gente qualifica muito os trabalhos de lá e, segundo, porque a gente aprende muito com uma experiência que não dá para fazer de conta que não existe. É um pouco por aí a minha postura.
Pesquisa “Jovens Urbanos”
De 2001 a 2002, entro no espaço em que estou agora. Nessa época, recebi um convite, que me honra muito, porque quem indicou meu nome foi o professor Jesus Martin Barbeiro, da Colômbia. O pessoal da Colômbia tinha feito um trabalho sobre o consumo cultural dos jovens centrado na questão do Rock'n'Roll. E quando termina, eles percebem que há algo muito forte ligado à questão de vida e de morte, que não é apenas estampada em camisetas, capas de discos, CDs, etc.
Nesse contexto, uma rede de pesquisadores internacional foi proposta. Havia um grupo na Catalunha, um em Londres e mais quatro países latino-americanos trabalhando. Aqui, montamos um novo projeto para essa questão de vida e morte de jovens urbanos. E falamos com a Colômbia que a gente ia fazer também essa parte de violência e consumo cultural. É o que está no site (http://www.pucsp.br/projetojovensurbanos/). Estamos com um livro no prelo já para publicar. E essa pesquisa, que teve várias etapas, deu condições para montar uma equipe grande.
A primeira etapa foi uma pesquisa de campo para mapear o consumo. Primeiro, ir atrás de uma concepção de juventude. Depois pensar no consumo cultural. É um consumo da cultura, mas também um consumo ligado às mídias. Depois, pensamos na experimentação da violência, para daí centrarmos na questão de vida e morte, que era o mote da pesquisa internacional. Foi muito bom, porque, de novo, juntamos a comunicação com a antropologia visual. Montamos uma metodologia para a leitura de imagens; um banco de imagens e um banco sonoro. E a etapa que está agora começando tem a ver com a questão do envolvimento político e da participação do jovem.
Nesse sentido, gosto sempre de marcar o que foi difícil. E não só o fácil. Porque de repente o projeto está pronto e parece que é tudo uma maravilha. Então, acho interessantes esses percursos metodológicos. Uma coisa é pensar a juventude na Colômbia, outra é a juventude no Brasil. Não só por conta das diferenças, mas também por conta da extensão da pesquisa.
A gente marcou muito claramente que nós não tínhamos condição de fazer uma pesquisa para o Brasil e muito menos pensar a cidade de São Paulo. Então pegamos o mapa da exclusão. E a gente armou por ali duas zonas da cidade de São Paulo de contraste. Então, trabalhamos com jovens da Zona Sul, que tem um nível maior de assassinato juvenil, de morte juvenil, carência de infra-estrutura de acesso cultural, de capital cultural muito baixo e tudo isso. E pegamos os meninos daqui da Zona Oeste. Acesso a todos os cinemas, as escolas consideradas boas alternativas estão aqui. Enfim, nós fizemos um contraste, não por renda, mas pelo acesso à cultura.
Jovem particular X universal
Então, isso nos deu, digamos, uma base para trabalhar tanto a perspectiva de pensar um jovem universal e a existência de um jovem particular. O jovem particular está formatado na pesquisa por esse contraste entre a Zona Sul e a Zona Oeste. Há uma particularidade de ser menino ou menina carente e viver na Zona Sul, não ter infra-estrutura urbana, não ter bom acesso a escolas e tal, e morar na Zona Oeste, nessa região onde as escolas estão à disposição, ter parques, cinemas, ter tudo. Então, isso nos deu a base para trabalhar a referência da diversidade dos grupos.
E pensar a perspectiva da universalidade foram dois caminhos. Um deles é o caminho de um conceito que Edgar Morin nos traz que é o de juvenilidade, que perpassa a sociedade moderna. Para discutir isso na pós-modernidade é de um outro jeito, mas esse conceito trata daquela idéia de que não importa a idade que se tenha, há um padrão de juvenilidade. Isso pega tanto crianças de oito anos como adultos de cinqüenta. Então há uma universalidade de um modelo juvenil, que nos permitiu pensar uma certa composição mais universal. E a universalidade não está só por aí. Por exemplo, quando se trata de música, não há diferença entre os meninos que moram na Zona Oeste e os que moram na Zona Sul. Eles gostam de um tipo de música parecido. Quando se trata de acesso a determinados produtos culturais, há um gosto que é universal.
Essa característica está sendo apontada meio que como tendência. Então, por exemplo, você pega um jovem de Barcelona e um jovem de São Paulo, eles têm algo articulado ao redor de determinados padrões culturais. Óbvio que tem a ver com a mundialização da cultura. Mas, se relaciona também com como cada grupo, localmente, se apropria dessas matrizes da globalização. E é óbvio que isso também é determinado pelas cidades em que vivem e o que ela oferece.
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