De fato, na minha opinião, o fenômeno do desemprego adquire características próprias em regiões como São Paulo. Trata-se de uma área com forte tradição industrial, que passou por profunda reestruturação, não só no âmbito de sua indústria como nos demais setores de atividade de sua economia. Seja pela introdução de novas tecnologias ou de novas técnicas gerenciais, o resultado dessa reestruturação, para o mercado de trabalho, foi o aumento do desemprego e a precarização das relações de trabalho. Aparentemente, as ocupações semi-qualificadas da indústria e de certos segmentos dos serviços (como os bancários) foram as mais atingidas por esse processo, o que levou ao desemprego muitas pessoas relativamente escolarizadas e qualificadas, em faixas etárias Pode-se dizer que ocorreu uma espécie de polarização do mercado de trabalho, no sentido de que os postos de trabalho criados, além de ser em menor número que os destruídos, concentravam-se em ocupações com poucas ou, em menor medida, com elevadas exigências de qualificação. Isso fez com que se ampliasse muito o tempo decorrido entre a perda de emprego e uma nova inserção ocupacional para o segmento semi-qualificado (que, quando ocorre, em geral, é na condição de assalariamento sem carteira assinada ou de trabalho autônomo), mantendo a taxa de desemprego em patamar muito elevado e provocando a redução da média dos rendimentos do trabalho de sua massa. Em simultâneo, além de um altíssimo estoque de pessoas em idade de trabalhar residentes em São Paulo - muitas atraídas pelas oportunidades de emprego existentes no passado -, acelerou o ingresso das mulheres no mercado de trabalho, ampliando a disputa pelas escassas oportunidades disponíveis. Também tem-se observado um adiamento do ingresso de jovens (provavelmente reflexo da maior valorização da escola) e da saída de pessoas mais idosas desse mercado (possivelmente como forma de evitar redução de seus rendimentos), levando esse mercado a uma composição mais velha e com maior presença de mulheres. Desse modo, o desemprego em São Paulo não pode ser tomado como um fenômeno meramente conjuntural, pois, além desse aspecto, movimentos mais profundos, seja no âmbito do processo produtivo, seja no comportamento dos segmentos sociais que compõem sua população ativa, são decisivos para seu entendimento. Sinésio Pires Ferreira, economista e diretor adjunto do SEADE.
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