Segregação
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Arquivo CEM |
Aron Rocha, cearense de 38 anos, dono de um pequeno bar na viela: “Ter um comércio na favela é bom e não é. O capital é limitado, a perspectiva de ganho é sempre a mesma, mas estar na região é bom porque está numa área central, bem localizada. Aqui também tem fácil acesso ao hospital.” “Eu moro no Jardim Miriam agora, mas meus filhos eu ainda trago para estudar nessa região porque a escola é melhor, mais segura. Apesar disso, eu também acho que nós ainda somos muito carentes e desassistidos. Ninguém vem aqui na favela montar escola, áreas de lazer. A brincadeira da criançada é ser levada pela polícia a cada instante. Estamos até habituados com batidas policiais, mas assusta. Muita gente trabalha, mas as oportunidades para uma pessoa daqui são pequenas, tem que batalhar muito. A situação é bem triste.” |
Aron Rocha, comerciante na favela de Vila Mariana |
Arquivo CEM |
Diego Rocha do Nascimento, de 18 anos, motoboy: “Eu e minha família viemos de Francisco Morato para achar mais serviço, porque aqui é próximo de tudo.” “Fiz um curso sobre folclore e agora faço um outro de computação, fornecido pela Igreja Santo Inácio. Eu só quero trabalhar e estudar. O que vier está bom.” “O único problema de morar aqui é que quando tem encrenca dizem que são os meninos da favela.” |
Diego Nascimento |
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Recanto dos Humildes em Perus
Severino José de Lima, de 53 anos, aposentado:
“Em Perus falta tudo. De segurança a posto de saúde. Quando você vai no pronto-socorro tem dia que não cabe ninguém, é gente jogada pra tudo que é canto. Outro dia chamei a ambulância no 103, porque meu pai passou mal, e a ambulância não veio. Isso daqui é o caos. A gente mora aqui porque não consegue morar em outro canto. O bairro é muito violento, eu tremo de medo. Às vezes eu estou em casa à noite e ouço ‘nego' atirando aí de bobeira. A polícia você chama e ela não aparece. Acho que aqui tinha que ter alguém que levasse nossos problemas para os políticos ou uma associação que olhasse mais pela população daqui.”
Arquivo CEM |
Vanda Elias Carvalho Santos, de 59 anos, dona-de-casa: “Antes as crianças até tinham uniforme, bolsa-escola, passeiozinhos. Essa rua era lavada de 30 em 30 dias. Mas encerrou tudo isso. No momento não temos nada. A educação é péssima e quando as crianças saem da escola ficam soltas na rua, sem ter quem cuide delas. E a violência aqui é grande, matam muita gente. Tenho muito medo, principalmente à noite.” |
Vanda Santos |
Arquivo CEM |
Hilário dos Santos, de 45 anos, tapeceiro: “Precisava investir mais em transporte, porque aqui é bem precário. O trem, por exemplo, é muito lotado. É difícil conseguir embarcar nos vagões. O Posto de Saúde também é ruim, nunca tem médico. Para mim o benefício de morar aqui é o de não pagar aluguel e estar próximo aos meus familiares.” |
Hilário dos Santos |
Arquivo CEM |
Márcia do Prado Gomes, de 27 anos, comerciante: “Hoje está bem melhor, mas quando eu vim era péssimo. Aqui era tudo barro. A população que asfaltou a rua. Havia muito crime também, assalto e assassinato. A polícia faz vista grossa. Parece que eles têm receio de andar no bairro. Eu morro de medo, durante a noite não saio de casa. Outro dia mesmo mataram sete pessoas aqui na esquina de casa. Teve uma briga boba e o cara veio e matou todo mundo, morreram muitos jovens que só estavam perto conversando.”
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Márcia do Prado Gomes, moradora do Recanto dos Humildes |
“O lixo aqui é demais. A prefeitura não recolhe. A escola também nunca tem aula, as crianças ficam soltas brincando por aí. Também não tem área de lazer. Eu e meu marido temos que ir até o parque do Ibirapuera ou o da Água Branca pra passear. O do Anhangüera só agora ficou bom, porque antes era muito ruim.”
“Antes até tinha uma associação de moradores por aqui, mas acho que acabou, eu nunca mais soube de nada. Fica todo mundo meio perdido.”
Fábio Julian, de 21 anos, office-boy:
“Eu acho legal morar aqui, mas tem muita violência, muita droga rolando. Eu acho que não tem como melhorar, porque é difícil ver policiais por aqui.”