Segregação
Em depoimento à reportagem os moradores de ambas favelas relataram as dificuldades e as vantagens que encontram no local onde moram. Com esses dois exemplos, já foi possível confirmar um dos principais argumentos do livro: em São Paulo, não existe uma periferia, mas uma variedade de periferias, cada uma com características particulares. Morar perto X Morar longe Localizada num espaço que foi uma fábrica de velas falida e abandonada na rua Mario Cardim, a favela da Vila Mariana já está na região há 30 anos, segundo a subprefeitura do bairro. Alguns moradores entrevistados mudaram de regiões com melhor infra-estrutura urbana para a favela, por conta da boa localização. Esse é o caso do motoboy Diego Rocha do Nascimento, que mora lá há cinco anos: “Vim de Francisco Morato com a família para achar mais serviço, porque aqui é próximo de tudo”. Já o comerciante Aron Rocha, cearense de 38 anos, fez o caminho contrário: comprou uma casa no Jardim Miriam e saiu da favela. Ele concorda com Diogo, mas ressalta que apesar da proximidade os moradores ainda são muito carentes e desassistidos: “Ninguém vem aqui na favela montar escola, áreas de lazer. A brincadeira da criançada é ser levada pela polícia a cada instante”. De fato, pouco depois de entrarmos na favela, um comboio de policiais entrou no local de moto e retirou um jovem. Se na Vila Mariana os moradores são mais rigorosamente vigiados e repreendidos, no Recanto dos Humildes em Perus – a segunda área visitada – a população sofre com a falta de policiamento. O aposentado Severino José de Lima, pernambucano de 53 anos, é um dos principais insatisfeitos: “O bairro é muito violento. Às vezes eu estou em casa à noite e ouço ‘nego´ atirando aí de bobeira. A polícia você chama e ela não aparece”.
O Recanto dos Humildes é um misto de lotes urbanizados e favela, próximo ao km 26 da Rodovia dos Bandeirantes. Sua história teve início com uma iniciativa governamental. Segundo o geógrafo Gustavo de Oliveira Coelho de Souza, a área foi comprada no governo de Luiza Erundina para atender a demanda de moradia do movimento dos Sem Terra e moradores de favelas em situação de risco, mas por ser um local de topografia irregular, passou por diversas dificuldades para sua urbanização. Com a transição do governo petista para a gestão Maluf, a população ficou sem assessoria e passou a ocupar sem critério a região.
Embora os moradores de ambas as favelas sejam bastante carentes, na favela da Vila Mariana parece haver maior oferta de benefícios materiais. A mineira Maria das Graças dos Santos, de 52 anos, atualmente desempregada, está na favela há 20 anos e informa que lá existem a Associação Mãos Unidas, a Igreja Pia Sociedade de São Paulo, uma Igreja Batista e um centro espírita. As instituições têm contribuído com cestas básicas, remédios, aulas de reforço da escola, cursos variados para crianças, adolescentes e adultos. |
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