Número Sete - outubro/novembro/dezembro de 2005
Reportagem

Indústria de sonhos

A teledramaturgia também contribui para a formação de consumidores em potencial, e este consumo não se restringe aos produtos apresentados nos intervalos comerciais e merchandising . Do carro bonito do galã ao corte de cabelo da mocinha, passando pelas belas residências e pelo sonho dourado de um final feliz com um grande amor, a novela vende de tudo, mas, principalmente, o estilo de vida do carioca e do paulistano de classe média-alta.

O engenheiro Alejandro Barrios confirma que já se sentiu influenciado em seus gostos pessoais: “Já comprei vários CDs com as trilhas sonoras das novelas e fiz, ou senti vontade de fazer, a caminhada no calçadão do Leblon ouvindo Velha Infância dos Tribalistas. Quis também fazer um passeio de moto, sem rumo, com a música do Fagner, como fazia o Paco em Da Cor do Pecado ; e andar pelos roseirais de Holambra como em Alma Gêmea . Eu comprei todas essas ilusões e algumas vezes fiquei até mais desapontado, porque o nosso roseiral real é bem diferente do da novela”.
 
Alma Gêmea, TV Globo - 2005

A maior parte dos telespectadores, independentemente de classe social, também podem criar a partir das imagens veiculadas pelas novelas desejos de consumo e fantasias. E o problema não está apenas na questão da condição econômica de cada telespectador para realizar esses sonhos, mas na impossibilidade deles serem efetivamente satisfeitos como nos é mostrado e vendido.

Entretanto, isso não chega a ser um problema para a diarista Marlene dos Santos, de 43 anos, telespectadora assídua das novelas do SBT e da Record: “Eu gosto de sonhar com aquelas coisas, ver as casas bonitas, as mansões, gosto de ver os casais naquele romance. Eu queria ter aquilo tudo. E sonhar é bom, sonhar não paga nada”.

Como já disse Walter Benjamin em Magia e Técnica, Arte e Política , quando analisou o envolvimento dos leitores com os romances – gênero que deu origem ao folhetim e à novela – “O romance não é significativo por descrever pedagogicamente um destino alheio, mas porque esse destino alheio, graças à chama que o consome, pode dar-nos o calor que não podemos encontrar em nosso próprio destino”.

 

 
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