Qual a influência da telenovela na sociedade brasileira?
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Fonte de divertimento, lazer e informação, a telenovela brasileira conseguiu ultrapassar o estágio “primitivo”, em termos de dramaturgia, produção, direção, interpretação. É sem dúvida, hoje em dia, padrão internacional para a consecução de qualidade e conteúdo. E isso é o que de melhor ela tem para oferecer a seu público: o conteúdo. Foi além do melodrama simples, do folhetim em bruto, e alcançou o patamar de obra literária, às vezes até o patamar de obra de arte. |
Belíssima, TV Globo - 2005 |
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Portanto, afeta o seu público na medida em que lhe dá entretenimento, mas também novas formas de encarar o mundo, os problemas, os assuntos do cotidiano. O público da telenovela é afetado não em termos de simples modismos, de novas maneiras de vestir-se, de produzir sua aparência física, de melhorar seu modo de vida, porque isso seria querer que a telenovela ocupasse o lugar do poder. Isso ela não pode fazer e, se o povo brasileiro vive carências, não é culpa dos escritores, dos atores, dos artistas. Mas consegue, isso sim, passar a esse povo o nosso pensamento, nosso, sim, dos escritores que tiveram a felicidade de poder privar dessa forma de comunicação.
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Renata Pallottini é dramaturga, escreve para teatro e televisão e publicou, entre outros, os livros A casa , Coração americano , Chão de palavras , Noite afora , e Obra poética , além de ter coordenado a Anthologie de la poésie brésilienne . |
Como está a representação do negro nas telenovelas?
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Recentemente, houve um aumento da participação dos negros nas telenovelas, relacionado com um conjunto de ações, várias delas dos próprios atores negros. Na realidade, um setor relevante da publicidade e da telenovela se tocou que deviam contribuir para acabar com a persistente incorporação dos atores negros apenas em papéis estereotipados. Efetivamente, o número médio de atores aumentou. Da mesma forma, a preocupação em incorporá-los como bonitos é a grande característica deste novo século.
No caso de Da Cor do Pecado, o impacto simbólico para o país, especialmente para as crianças negras, de ver a Taís Araújo como protagonista foi o maior ganho com esta telenovela. No entanto, o núcleo negro não foi exatamente um núcleo. Mais uma vez, uma personagem importante como foi o da Taís, a Preta, estava isolada em um mundo de brancos: a mãe morre logo no início e a maioria dos amigos eram brancos. Ou seja, o negro ainda é um ser exótico no mundo dos brancos, especialmente aqueles que fogem da estereotipia clássica. |
Da cor do Pecado, TV Globo |
Se compararmos com a representação do negro na televisão e no cinema norte-americano, temos um situação irrisória quase ridícula. Lá, os negros são 11% da população total. Aqui nós, os afro-brasileiros, somos metade. Mas, de fato, temos uma constante incorporação do negro em um tipo de representação mais positiva. Mesmo que proporcionalmente seja pequeno e que a TV seja ainda um mundo de brancos.
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Joel Zito Araújo, é autor do livro e do documentário A Negação do Brasil, sobre a ausência e representações equivocadas do negro nas telenovelas. É também diretor do filme As Filhas do Vento, que entrará em cartaz esse ano. |
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