Número Sete - outubro/novembro/dezembro de 2005
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Televisão
Telenovelas criam conflito entre o mundo do alto consumo e pessoas de baixa renda

Estudos de recepção na favela de Paraisópolis (SP), Montes Claros (MG) e Timbaúba dos Batistas (RN), ajudam a entender como população pobre assimila e interpreta as telenovelas, a partir de uma realidade bem distinta da dos personagens

Você já reparou quantas antenas parabólicas, a princípio um produto de luxo, existem em favelas de São Paulo? Se você entrar em alguma dessas favelas, talvez se surpreenda ainda com o número de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos de último modelo, num local que sofre de carências básicas. E um detalhe: a televisão está sempre lá, mesmo que não haja uma máquina de lavar, por exemplo, um item teoricamente mais importante no dia-a-dia do ponto de vista prático. Porque isso acontece?
Favela de Paraisópolis  

Uma hipótese para explicar esse aparente paradoxo é o fato de que a televisão propicia uma espécie de inclusão social simbólica, sem a qual as pessoas estariam desconectadas do mundo. “O conteúdo do programa, por sua vez, cujo objetivo primeiro é o de atingir os consumidores de classes mais altas, faz com que o próprio consumo também seja encarado como uma forma de inclusão social simbólica”, diz Esther Hamburger, antropóloga e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole.

Para entender melhor como a televisão - mais especificamente a telenovela, programa que mais promove um estilo de vida pautado pelo consumo – influencia o comportamento das pessoas, a pesquisadora participou de uma pesquisa de recepção realizada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Realizada entre 1996 e 1997, a pesquisa abrangeu três localidades diferentes: na favela de Paraisópolis, o trabalho de campo foi conduzido pela própria Esther e por Ronaldo de Almeida, também pesquisador do CEM; na cidade de Montes Claros, Minas Gerais, por Heloisa Buarque de Almeida, antropóloga da Unicamp; e em Timbaúba dos Batistas, no Rio Grande do Norte, por Antônio La Pastina, da Universidade do Texas.
 
Belíssima, TV Globo - 2005

“Paraisópolis, tinha uma alta porcentagem de TVs coloridas, quase 90%, e de residências com mais de uma televisão, número que chegava a 21%. Na época foi lançado o sistema de TV por satélite, e uma semana depois já havia uma antena no local”, diz Esther, que realizou o estudo em São Paulo. “É freqüente o favelado gastar dinheiro em equipamento caros, pois o consumo representa uma forma de demonstrar que eles são capazes de superar a discriminação social, racial e de gênero.”

 
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