Número Cinco - abril/maio/junho de 2005
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Uma perspectiva feminina da favela de Paraisópolis
por Paula Bonelli

       
André Queiroz

Cleonice

Mocinha


Maria


Nenê

Hortência
       

 

     

Se no sertão nordestino o homem se destaca como autoridade e fonte de renda da família, a mesma dinâmica não prevalece ao chegar à metrópole. Esta é uma das constatações implícitas no documentário 5 mulheres de Paraisópolis , de Cláudia Mesquita, do Núcleo de Audiovisual do Centro de Estudos da Metrópole. A partir de depoimentos de cinco mulheres, são tecidas as perspectivas sobre trajetória migratória, trabalho, família, história pessoal e percepções da favela, compondo uma visão feminina da favela de Paraisópolis - a segunda maior da cidade de São Paulo, atrás apenas da favela de Heliópolis.

O documentário de 40 minutos é inspirado em pesquisa etnográfica realizada por Ronaldo de Almeida e Tiarajú D'Andrea, pesquisadores do CEM. A pesquisa mostra a importância das redes de ajuda mútua em regiões pobres - sejam as religiosas, de vizinhança, familiares e organizações de moradores, e discute as relações com o entorno rico através das ONGs e iniciativas assistenciais, bem como as relações de poder dentro da favela.

Esses assuntos aparecem tangencialmente em relatos como o de Dona Nenê, pernambucana e doméstica no bairro do Morumbi. Ela conta que um traficante ajudou-a a pagar o barraco, mas que considera a favela um lugar seguro. Olhando para os edifícios luxuosos do Morumbi, afirma: “Se os ricos estão incomodados que saiam”. Conta ainda que ela própria arrumou os telhados, fez o reboco das paredes e instalou a encanação, e conclui: “Faço tudo, menos dinheiro”.

O objetivo, no entanto, era fazer uma experimentação audiovisual no campo das ciências sociais sem, obrigatoriamente, ter a preocupação de traduzir os resultados da pesquisa. “Dessa forma, o documentário acaba acrescentando novas dimensões a pesquisa, na medida em que faz um recorte de gênero e revela um protagonismo feminino nas famílias de origem nordestina em Paraisópolis, assunto que não foi aprofundado na pesquisa”, diz D'Andrea.
André Queiroz

Vista da favela de Paraisópolis

“Desde o começo da interlocução com Ronaldo e Tiarajú, houve uma abertura para que o documentário fosse um processo de pesquisa em si, embora sempre mantendo o diálogo com os resultados da etnografia”, diz Mesquita. “A perspectiva feminina também interessava os pesquisadores, porque as trajetórias migratórias geralmente são contadas pelos homens, através da perspectiva do marido ou filho que cumpre o percurso inicial para que depois a família venha.”

Opção feminina

A opção pelo ponto de vista feminino foi amadurecendo ao longo da elaboração do roteiro. De início, a equipe procurou um recorte que refletisse a questão das redes de ajuda mútua abordadas na pesquisa de Almeida e D'Andrea. A primeira hipótese era retratar uma família extensa, com sua rede de agregados e parentes. A equipe chegou a abordar 25 famílias, para escolher uma que encaixasse nesse perfil.


Cláudia Mesquita , diretora de 5 Mulheres de Paraisópolis


A família escolhida era composta praticamente só por mulheres. No entanto, na hora da filmagem o resultado não foi o esperado. “Muitas mulheres ficaram tímidas ou preferiram não falar sobre situações que envolviam as lutas internas pelo poder na favela”, conta Mesquita. Nesse ponto, no entanto, já estava claro que o perfil feminino seria a tônica do documentário. O contato com a matriarca foi fundamental, porque além de desempenhar um papel importante, eram elas também quem melhor conheciam as histórias das famílias. Foram escolhidas então doze mulheres e feitas novas gravações, sendo que cinco ficaram como personagens principais do filme. Os resultados foram cinco depoimentos fortes e bem representativos da vida na favela.

 

 
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