Número Cinco - abril/maio/junho de 2005
Entrevista

Perfil: Henri Gervaiseau

Henri Gervaiseau é Coordenador do Núcleo de Audiovisual do Centro de Estudos da Metrópole, além de professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA – USP, onde também é pesquisador associado ao Núcleo de Estudos da Poética da Imagem. Especialista em documentários, é também diretor, roteirista e editor, tendo trabalhado em diversas produções para a televisão e cinema (veja filmografia completa no fim da entrevista). Dirigiu o filme E m Trânsito, o primeiro longa-metragem do CEM, além de ter supervisionado a realização dos vídeos Na Moda do Centro, dirigido por Martha Nehring e Cinco Mulheres de Paraisópolis, dirigido por Claudia Mesquita , ambos baseados em pesquisas da casa.

Como você mudou da História, que foi sua formação inicial, para a área de cinema e documentário?

Quando estudante de graduação fiz diversas disciplinas relacionadas ao cinema, sendo que o curso que mais me marcou foi o de Henri Langlois, fundador e então diretor da Cinemateca Francesa. Devo dizer que fui cinéfilo desde a minha adolescência e que, na minha juventude, fui também por um breve período super-oitista. Tenho um filme inacabado ( O assassino era o jardineiro) , rodado no final dos anos 70, que planejo um dia terminar de montar.

Mas a minha guinada profissional para o universo do audiovisual foi, inicialmente, através de uma experiência de trabalho com televisão nos anos 80, quando participei da realização da série de programas Brasil Corpo e Alma, produzidos pela Fundação Roberto Marinho e a Fundação Pro-Memória, sobre diferentes contextos culturais regionais brasileiros. Tive então a sensação de ter encontrado finalmente a minha vocação, o da expressão através dos meios audiovisuais.

Como foi sua passagem pela televisão e como ela influenciou seu trabalho de documentarista?

Além de trabalhar na série Brasil Corpo e Alma, também trabalhei, por um curto período, para o Globo Repórter , e bem mais adiante para o Globo Ciência . Na televisão aprendi, entre outras coisas, a trabalhar com prazos relativamente curtos, a levar em conta o público-alvo de cada programa, a realizar trabalhos que pudessem ser compreendidos por uma larga audiência, e, nesse contexto, buscar sempre encontrar o difícil equilíbrio entre qualidade (estética, intelectual) e eficiência (comunicativa). Além da experiência pratica que adquiri, acredito que a passagem pela TV, paradoxalmente, reforçou o meu projeto de construir o meu próprio caminho como documentarista independente.

Como você se envolveu com o tema da ciência, por exemplo, ao dirigir o programa Globo Ciência?

Na verdade não dirigi o programa Globo Ciência. Exerci diversas funções dentro das equipes do Globo Ciência das quais participei - chefe de redação, argumentista, roteirista, mais raramente também editor e/ou produtor. Posso dizer que em algumas ocasiões, graças a generosidade da diretora Mariângela Medeiros, exerci considerável influência sobre a direção de vários programas, mas nunca dirigi efetivamente o programa.

Acredito que uma das nossas maiores batalhas, quando trabalhei no programa, era defender a idéia de que divulgar a ciência não significava tentar exportar conteúdos de informação para a mente do espectador, mas de estimular a sua curiosidade intelectual e a sua capacidade de reflexão crítica, através da exposição instigante de questões essenciais do campo científico.

Como foram seus projetos de doutorado e pós-doutorado, nos quais você já estava envolvido com documentários?

O meu projeto de doutorado intitulava-se O Abrigo do tempo . Através do estudo de um conjunto de filmes, estrategicamente escolhidos dentro da história do cinema, eu procuro mostrar como o chamado cinema documentário é um meio privilegiado e singular de expressão e de compreensão da passagem do tempo. Meu orientador foi André Parente. A maior influência, de certa forma, foi a de Jean-Luc Godard, e da sua série Histoire (s) du Cinema . O meu projeto de pós-doutorado intitulava-se Representações da Nação e tinha por tema representações audiovisuais do Brasil na produção de não-ficção brasileira do final dos anos 90 e do início dos anos 2000. O supervisor do projeto foi Ismail Xavier, com quem tenho tido o privilégio de desenvolver um constante diálogo intelectual.

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