Extraindo personagens dos fluxos A primeira etapa na realização do filme foi definir qual o recorte a ser aplicado, já que o trânsito é um assunto praticamente inesgotável. A primeira proposta foi focar um centro nevrálgico, como o terminal Barra Funda. “No entanto, chegamos a conclusão de que não existe um ponto central, mas diversos pólos de convergência”, diz Gervaiseau. “A opção foi abordar o próprio trajeto, extraindo personagens dos principais fluxos da cidade”. Essa fase inicial de pesquisa e discussões contou com a colaboração de Renato Balbim, especialista em mobilidade urbana (veja matéria sobre a pesquisa de Balbim em “Trânsito: Pesquisador critica ênfase em tecnologia de controle do trânsito e defende nova abordagem da mobilidade urbana”).
Para selecionar os personagens a cidade foi dividida em três grandes regiões, de acordo com a predominância de cada tipo de transporte: o trem na zona oeste, o ônibus na zona sul e o metrô na zona leste. Além disso, foram utilizados dados da pesquisa de Origem e Destino do metrô e o Mapa da Vulnerabilidade Social do CEM, que ajudou a escolher o local de moradia dos personagens de acordo com parâmetros socioeconômicos. A chamada pesquisa de personagens durou três meses, nos quais foi feito um primeiro contato com cerca de 100 pessoas. No final foram selecionadas dezoito pessoas para que fossem gravados os trajetos de ida e volta da casa pra o trabalho, sendo que apenas quinze entraram no filme. A gravação foi feita em duas etapas: o trajeto e a entrevista. “A gravação do trajeto foi feita antes, uma vez que a experiência compartilhada do deslocamento poderia enriquecer a conversa na hora da entrevista”, explica Gervaiseau. “Acompanhei as gravações do trajeto, mas deixava a conversa para o momento da entrevista, para preservar o frescor do primeiro contato”. O filme buscou inspiração em duas referências principais: na gravação dos trajetos foi o cinema direto, que busca registrar situações cotidianas sem maiores intervenções; e nas entrevistas o diretor Eduardo Coutinho. Nelas, Gervaiseau não se limita a falar da questão do transporte, mas aborda a vida pessoal dos entrevistados, como origem, trabalho, vida social, religião e outros aspectos que apareciam nas conversas. “O objetivo era compreender as formas de articulação entre a vivência das pessoas no transporte com outras esferas da sua condição de existência”, diz o diretor. |
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