Moradia nova para um novo homem
Os conjuntos habitacionais verticalizados foram pensados para ser uma nova forma de moradia para um novo homem, que emergia junto com o avanço da industrialização, da urbanização e das idéias socialistas e social-democratas. Arquitetos modernos partiam da idéia de baratear o custo da moradia através da racionalização, estandartização e industrialização da construção, mas tinham em mente oferecer espaço para acolher novas relações sociais e familiares. |
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Para começar, mudam as fronteiras entre o privado e o público, criando a noção de que a habitação não é apenas a casa, mas também um conjunto de equipamentos e serviços coletivos.
A nova moradia transferia funções domésticas do espaço privado para os equipamentos sociais e comunitários. Seria uma pequena revolução até na maneira de as famílias se organizarem. Nas palavras do arquiteto francês Anatole Kopp, o novo formato contribuiria para “a evolução do conceito de família e para acelerar a passagem do conceito de família extensa, necessária para a realização dessas tarefas dentro da casa, para a família moderna, reduzida aos pais e aos filhos e que se apóia para a maior parte de suas atividades domésticas em uma rede de equipamentos que pemitem a socialização dessas atividades”.
A cozinha foi racionalizada, de modo a permitir a simplificação das atividades domésticas, pensando na emancipação da mulher e em sua inserção no mercado de trabalho. Arquitetos sugeriam que a moradia deveria ser entregue já com equipamentos domésticos, de forma a baratear sua compra em massa e tornar acessível a todos os dispositivos que tornavam a vida mais fácil.
No lugar dos quintais, nem sempre bem mantidos no velho modelo de habitação, haveria áreas coletivas destinadas à convivência em comunidade. Colunas tornariam o andar térreo das construções verticalizadas aproveitável para o lazer. E a construção em prédios dispensaria gigantescos núcleos de filas intermináveis de casas, que exigiam sistema mais complexo de transporte e maiores gastos nos serviços de utilidade pública, como água, luz, esgoto e calçamento.
Por trás das concepções dessa escola de arquitetos, estava a idéia de que o mundo pertenceria às massas de trabalhadores. “A exemplo de Marx, para quem a filosofia que se havia limitado a descrever o mundo iria contribuir para transformá-lo, os criadores artísticos da vanguarda dos anos 20, entre eles os arquitetos, acreditavam que a arte, a arquitetura e a organização urbana deixariam de ser um reflexo da sociedade existente para se tornarem um dos instrumentos privilegiados de sua construção”, definiu Kopp, em livro cujo título já diz tudo – “Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa”, publicado pela Edusp em 1990.
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