1

DiverCIDADE 16
janeiro - abril
de 2008

CONJUNTOS HABITACIONAIS

MATÉRIAS

Conjunto habitacional, uma utopia que virou ruína

Na habitação, pneu é trocado com o carro andando
Equipe reconstrói trajetória de projetos brasileiros

Moradia nova para um novo homem

Como o mundo constrói conjuntos habitacionais?

Cidade Tiradentes é tema de pesquisa e filme documentário

Conjuntos habitacionais na grande tela

REPORTAGEM
Em Zaki Narchi, conjunto habitacional mantém moradores próximos ao centro

ENTREVISTA

Moro em Tiradentes dá continuidade a diálogo entre pesquisa e documentário

PERFIL

Marta Arretche fala sobre avaliação do sistema habitacional realizada pelo CEM

ARTIGO ASSINADO

Distâncias geográficas e acercamentos humano, por Tiaraju D’Andrea, pesquisador do CEM

RESENHAS

Economia dos pontos de vista: Pierre Bourdieu e os Conjuntos Habitacionais

NOTÍCIAS
> Leia últimas notícias do CEM
Vídeo-Reportagem

Conjunto habitacional substitui favela e mantém moradores próximos ao centro

Projeto da prefeitura em Zaki Narchi favorece população, facilitando acesso a emprego e serviços e mantendo vínculos com o local.

por Gustavo Paiva

Primeiro Cingapura de São Paulo, o Conjunto Habitacional Zaki Narchi pode servir de modelo para se analisar as falhas e os êxitos do Programa de Verticalização de Favelas (Prover) da prefeitura de São Paulo.

zachi
O Programa, surgido em 1993, é reflexo de uma nova visão sobre habitação nas grandes cidades, a qual já era aplicada em muitos lugares, mas não em São Paulo. A solução para moradias irregulares passou a ser a integração à rede urbana local, ao invés da transferência para locais mais distantes, como era feito até então. Foi sob esse novo paradigma que, mesmo antes do Cingapura, iniciou-se a urbanização de muitas favelas de São Paulo.

Segundo Marcelo Romero, Professor de Arquitetura e Urbanismo da USP, muitas vezes não é possível transferir favelas inteiras para outras localidades, uma vez que a população local está ligada por meio dos empregos à região. “A política habitacional, face a esta constatação, transforma-se e passa a respeitar os assentamentos humanos existentes e a programar melhorias, procedendo então à reurbanização de cortiços e mesmo de favelas”, afirma.     
Foi dentro dessa lógica que a favela Zaki Narchi, existente desde a década de 1970, deu lugar ao conjunto habitacional. A inauguração dos primeiros blocos acorreu já em 1994. Os últimos só ficaram prontos em 1996 devido à complexidade do projeto. Durante o período de construção dos apartamentos a população foi transferida para alojamentos na mesma avenida onde se localizava a favela, primando pela permanência das famílias no bairro.  
           
Para Alex Kenya Abiko, professor de engenharia da USP, a permanência desses núcleos habitacionais em regiões mais centrais também facilita a vida da população, diminuindo o custo com transporte e instalação de novas estruturas de água, luz, esgoto em pontos mais distante.
           
De fato, uma pesquisa de monitoramento do Prover, realizada na Zaki Narchi, mostra que a população está satisfeita com a proximidade de alguns serviços urbanos. Edson Francisco Guedes, 35 anos, morador da Zaki Narchi desde a época da favela, comenta que tem tudo na região, delegacias, transporte, o Parque da Juventude.
O conjunto pode ser considerado bem localizado. A Zaki Narchi está a 5 km do centro, entre as estações Carandiru e Tietê do metrô e a um km do Shopping Center Norte, onde está o supermercado mais usado pela população. Edson também afirma que muitos moradores trabalham no shopping e no hotel próximos ao conjunto, o que mostra a ligação dos moradores com a região.  

A mudança das construções térreas da favela para os apartamentos do conjunto habitacional representou para muitos moradores grande melhoria na qualidade de vida. A pesquisa de monitoramento do programa aponta que o item “saneamento básico, limpeza, higiene, saúde, ausência de insetos e ratos” é um dos mais satisfatórios para a população, junto com o item “ter endereço, moradia mais digna”. Contudo, essa mudança de modelo de moradia também trouxe alguns desafios a serem enfrentados pelos moradores e muitos deles mostram falhas na concepção e na implementação do projeto.

Vídeo (entrevistas com alguns moradores e com o presidente da associação de moradores mostrando algumas das falhas do projeto. Os moradores ainda não têm a escritura, as áreas comuns estão destruídas, não se sabe ao certo de quem é a responsabilidade pela manutenção, faltou espaço para o comércio e etc). 

Parte dos problemas atuais da Zaki Narchi demonstra que os moradores não sabem ao certo de quem é a responsabilidade pela manutenção do conjunto habitacional. Como os moradores ainda não têm a posse dos apartamentos, essa responsabilidade recai ora sobre eles, ora sobre a prefeitura.

Outra causa seria a falta de senso de comunidade. Como aponta Romero, “o ato de morar demanda um esforço considerável em termos de se adquirir, na prática, uma educação social e ambiental, pedindo mudanças de comportamento em prol da construção de uma comunidade”. Embora o saldo seja positivo para os moradores, o projeto de verticalização da favela não levou em consideração esse fator e não deu condições para que a comunidade se desenvolvesse e se auto-sustentasse. Uma prova disso é a degradação das áreas comuns do conjunto.

 

impressa Versão para Impressão